quarta-feira, 24 de abril de 2013

O Índio da Praça e o preço da felicidade




 
“A vida é uma só, vamos viver, o mundo é o mesmo para todos e eu sou um homem livre, eu sou do mundo”, foram com essas palavras que Leonardo Raul Pereyra descreveu como viveu os 53 anos que possui. Pelo nome fica difícil saber de quem se trata, mas ao dizer que essa frase é do Índio, do Flamenguista, ou do Hippie que vende artesanatos na Praça do Dogello Goss, certamente os leitores já sabem de quem se trata.
Com um estilo totalmente diferente do que a cultura local, de origem européia, costuma formar os moradores, Leo, que na verdade é natural da Colômbia, está em Concordia há 18 anos. “Eu amo esse buraco, viajo, mas sinto saudades”, é assim que ele se refere o local que escolheu para morar e constituir família. Foi justamente motivado por isso, que para cá ele veio, enquanto as atenções do país se voltam no dia 11 de outubro de 1996 para a morte do cantor Renato Russo, Leo conhecia em meio a Oktoberfest de Blumenau aquela que seria a esposa e mãe do filho Gonzalo Augusto hoje com dez anos.
Com muito orgulho contou que está casado há 18 anos com a mesma pessoa, a concordiense Celina dos Santos. “Ele tem Celina como dona”, comentou apontando para o lado esquerdo do peito, indicando que falava do coração. A esposa até atuou como professora, mas no momento também é artesã. Uma mulher considerada madura, com os “pés no chão”, como definiu o flamenguista ao se referir à principal qualidade da companheira.
Quem lança o primeiro olhar sobre o colombiano, levando em consideração as vestes, o cabelo comprido já com madeixas brancas, chinelos de dedo, jeito simples e estilo hippie não imagina a quantidade, se é que é possível quantificar, de conhecimento e experiência de vida que ele possui. Ainda muito cedo se viu forçado a se tornar um homem viajado, aos sete anos ficou órfão de mãe, a partir daí passou a percorrer praticamente todos os continentes junto com o irmão, ambos sempre trabalhando com artesanato.
Não há um sequer estado do Brasil que já não tenha conhecido se não morado por Leo. Ao todo são 23 países percorridos, em muitos, como por exemplo, na Europa já morou, sempre ganhando o sustento com a confecção de brincos, pulseiras, colares, chaveiros e adereços. Além disso, fala fluentemente cinco idiomas: francês, italiano, português, espanhol e inglês. O domínio de outras línguas fez com que o artesão tenha sido também interprete nos principais pontos turísticos do Brasil. “Esse é o maior estudo que posso ter, a vida me ensinou”, comentou.
Manter um estilo de vida simples está muito longe de ser uma necessidade, trabalhar ao ar livre, é uma escolha. Diariamente o colombiano monta a barraca embaixo das árvores, conforme o sol muda de posição, ele também sem reclamar muda a estrutura de local. Leo e a esposa tiram o sustento do negócio, nos fins de semana, e datas especiais viajam para outros locais aonde comercializam os produtos. Shows nacionais, internacionais, as festas mais famosas de leste a oeste, de norte a sul do país já são conhecidas do casal. Tudo é planejado, na agenda de 2013, as datas de trabalho já estão todas anotadas.
O estilo de vida simples é tudo o que Leo afirma precisar para ser feliz. Quando se trata das escolhas futuras do filho Gonzalo Augusto, o colombiano ressalta que não se preocupa, pois o encaminhamento como pai está sendo fornecido. Boa escola, aulas de inglês, de judô e violão, além disso, ter boa educação com a família e sociedade é a principal exigência. “Quando ele crescer, se quiser ser como eu, se quiser ser bailarino, ou outra coisa, sempre terá meu apoio”, comentou.
É dessa forma calma e tranqüila que Leo pretende dar seqüência nos dias. Sempre prezando por boas viagens, entre os sonhos estão o de conhecer as colônias indígenas do Canadá e Chile, além da Austrália.  No ano passado o casal levou o filho para conhecer Machu Picchu, durante um passeio de dez dias. “Não podemos nos esquecer de da porta para dentro da nossa casa o mundo é meu, mas da porta para fora, o mundo é nosso”, finalizou.

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