A Abertura Oficial da Colheita da Maçã que Fraiburgo sedia hoje (10) será nesse ano além de um evento que marca o inicio da safra no país. O objetivo da Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM) e Prefeitura Municipal de Fraiburgo é reforçar os pleitos já apresentados ao Governo Estadual e Federal, além propor uma profunda reflexão sobre o momento delicado que o setor atravessa.
Não se sabe precisar o momento que a crise teve seu inicio, porém as causas são claras. Na visão da ABPM, a principal foi à política de crédito abundante para aumento da produção sem o cuidado de se acompanhar a evolução do consumo. “Isto causou a estagnação e até baixa dos preços da maçã em nível de Setor Produtivo, mas não para o consumidor”, explica o diretor executivo da ABPM Moisés Lopes de Albuquerque.
Desde o ano passado, quando se criou a comissão composta por representantes do setor da maçã e técnicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a ABPM tem exercido pressão junto ao Governo Estadual e Federal para receber apoios e incentivos a fim de superar a crise. Nesse encontro, novamente serão reforçados cinco pontos considerados principais como alternativas para minimizar os efeitos negativos que o segmento passa.
Entre elas, está a reivindicação da criação de um Consórcio Cooperativo, com a união dos produtores de maçã do Brasil para efetuar a compra de insumos e a comercialização da fruta, obtendo descontos e consequentemente melhor preço na venda da mercadoria. Essa medida foi apontada pelo próprio Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, como um modelo à ABPM que aprovou a ideia.
Outro ponto a ser lembrado, será a renegociação de dividas dos produtores com instituições financeiras adquiridas para o custeio. A ABPM sugere refinanciamento em 144 meses, com 24 meses de carência, taxa de juros limitadas a 6,75% ao ano, pagamentos de juros anuais, bônus de adimplência semelhante ao que ocorre no PESA e a possibilidade da utilização de créditos de impostos para o abatimento do endividamento.
A Associação defende a constituição de linha de crédito para a liberação de recursos a juro zero, os quais seriam usados em financiamentos das telas de proteção dos pomares, beneficiando as pequenas, médias e grandes propriedades. Além disso, pede a garantia ao Governo Federal de pelo menos R$ 40 milhões a título de subvenção ao prêmio de seguro agrícola contra o granizo para a safra 2012/13.
Ainda será lembrado sobre a necessidade de investimentos e comercialização da fruta e que estudos pontuem alternativas para que venham aumentar o consumo de maçãs, inclusive com aquisições do produto por órgãos governamentais, visto que com a terceirização da merenda escolar em Santa Catarina, o Projeto Mais Fruta, o qual oferecia maçã como alimento nas escolas foi extinto.
E por fim, o fortalecimento do Setor de Pesquisas, os produtores defendem a ideia de que é necessário fortalecer entidades pesquisadoras como, por exemplo, a Embrapa e a Epagri. Através do fortalecimento, esses órgãos poderão desenvolver estudos os quais orientarão produtores a produzir mais, com menor custo e melhor qualidade.
O EMPENHO DA MUNICIPALIDADE
Nas buscas constantes mantidas pela ABPM no reconhecimento e aplicação das politicas que venham a ajudar o setor, a Municipalidade de Fraiburgo tem sido uma das principais parceiras da entidade. Para o prefeito municipal Nelmar Pinz (PMDB), o município sempre esteve disposto a buscar junto aos poderes constituídos formas para que o setor saia fortalecido mediante uma possível crise, como a que enfrenta atualmente. “Desde 2006, Fraiburgo sedia o evento de Abertura Oficial da Colheita da Maçã, quando reúne aqui representantes do setor e governantes, um momento único de discussões neste sentido”.
Já o vice-prefeito, Beto Ferreira (PMDB), pondera que a crise não é local, envolve todo o setor da fruticultura e que o município tem feito tudo o que está ao seu alcance. Neste aspecto salienta uma das maiores conquistas dos últimos anos, a isenção do ICMS da Maçã, durante o Governo de Luiz Henrique da Silveira. “Isso mostra que nosso empenho não surgiu de hoje. Desde aquela época, quando eu era diretor da SDR, já buscávamos com o prefeito Nelmar e os produtores medidas para alavancar o setor”.
Entretanto, considera que a solução do impasse atual depende de políticas públicas dos governos federal e estadual, por este motivo, acredita que o evento de hoje promete novidades. “É o primeiro passo para uma solução”, concluiu.
OS NÚMEROS GERADOS PELA MAÇÃ
Fraiburgo possui cerca de 11 mil postos de empregos, a ABPM afirma que no mínimo 60% dos empregos formais do município são proporcionados pelo segmento da maçã.
Na safra 2010/11, o município produziu cerca de 150 mil toneladas da fruta, já a produção nacional foi de 1.250.000 mil toneladas, Fraiburgo é responsável por cerca de 25% da safra brasileira. Santa Catarina é líder nacional na produção da fruta, com uma participação de 49,2%, seguido do Rio Grande do Sul 46,5%.
A AGENDA DO GOVERNADOR EM FRAIBURGO
Além da presença do Governador do Estado Raimundo Colombo (PSD), estará em Fraiburgo o ex-governador e atual senador Luiz Henrique da Silveira (PMDB), o Secretário de Estado da Agricultura João Rodrigues e o diretor de Políticas Agrícolas do Ministério da Agricultura Edilson Guimarães. Se farão presentes também os Deputados Federais Valdir Colatto (PMDB), Mauro Mariani (PMDB) e Celso Maldaner (PMDB) e os Deputados Estaduais Valdir Cobalchini (PMDB) e Reno Caramori (PP).
A programação contempla às 10 horas, reunião técnica com autoridades, empresários e produtores de maçã no auditório do Hotel Renar; 11:20 horas City Tour onde serão apresentadas o andamento das obras do Centro de Eventos e a Rua Arnaldo Frey; 11:50 horas acontece em um pomar da empresa Renar/Pomifrai o ato que marcará a Abertura da Colheita da Maçã e as 12:30 horas o pronunciamento das autoridades e almoço do trabalhadores do segmento no Parque da Maçã.
COMO A CRISE É VISTA POR SETORES LIGADOS À MAÇÃ
“Não acreditamos que a crise tenha afetado diretamente o trabalhador rural, afetou sim os postos de trabalho e a economia local. Na verdade, faltaram políticas publicas que auxiliassem o principal setor da cidade e como é uma atividade de risco, o setor ficou mais na boa vontade do empresário do que nas ações publicas”.
Osenir Ribeiro
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais
“Entendemos que nos dois últimos anos, o setor da maçã está em crise. Situação criada por problemas climáticos e de preços. Preços no mercado internacional baixo por conta da alta valorização do real frente ao dólar e, que não vemos solução, mesmo a longo prazo. Entretanto o setor é forte e deve criar mecanismos de recuperação, ajudados pelos sistemas de seguros, com liberações das verbas federais e de um forte choque de gestão no setor, que já se iniciou e tende a ser maior para a completa recuperação do sistema”.
Jorge Pederiva
Presidente da Associação Empresarial de Fraiburgo (Aciaf)
“O Setor está passando por uma fase de quebra de paradigmas e de reinvenção. É um desafio para todos, mas alguns produtores sejam pessoas físicas ou jurídicas estão sofrendo mais ou menos que outros. Para este processo ocorrer com sucesso é impreterível a participação ativa do Setor Público. Precisamos de políticas públicas que sejam suficientes, não apenas para a pequena propriedade, mas também para a média e a grande, afinal trata-se de um Setor com vocação enorme para a geração de empregos proporcional ao volume de áreas, independente do tamanho da propriedade. O segmento não desaparecerá no Brasil, no entanto, pode mudar de mãos e até mesmo, em algumas situações migrar de regiões”.
Pierre Nicolas Pérès
Presidente da Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM)
“Fraiburgo é um município que já demonstrou ter vocação para vários tipos de negócios, no entanto, foi na maçã que nos tornamos conhecidos e reconhecidos no país e exterior. A economia funciona em cadeia, se o setor maceiro estiver bem, automaticamente o nosso comércio se fortalece e o município se torna economicamente mais forte. Defendemos que os produtores devem mudar o sistema adotado. O setor precisa se redescobrir e isso será possível com ajuda do Setor Público”.
Émerson Zablóski
Presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL)
“Foram 12 anos pesquisando a cultura para que ela pudesse ser produzida, naquela época nunca passou pela minha cabeça que a maçã poderia ser no futuro assunto de crise. Com o passar dos anos, todos decidiram plantar macieiras sem controle técnico, isso desencadeou essa situação negativa. Aponto entre as principais causas que levaram a crise, o excesso de plantação aliado à qualidade ruim da fruta”.
Roger Biau
Considerado o "Pai da Maçã Brasileira"
“A maçã não esta em crise, quem esta em crise é os produtores. Com a tecnologia aplicada na produção é possível colher o dobro em mesma área. A quantidade exagerada de maçã faz com que o preço caia, menos remuneração aliada a altos custo de produção que na sua maior parte é manual e altos juros nos empréstimos agrícolas, faz com que a situação dos produtores seja de endividamento. Mas estamos confiantes quanto as políticas que o Governo irá adotar para nos ajudar”.
Ângelo Benincá
Presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Fraiburgo
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